O corrupto que, por natureza, é um parasita que suga o dinheiro público para seu enriquecimento privado, se torna ainda mais detestável do ponto de vista ético e social quando se converte também em cínico
Por | Luiz Flávio Gomes
O corrupto que, por natureza, é um parasita que suga o dinheiro público para seu enriquecimento privado, se torna ainda mais detestável do ponto de vista ético e social quando se converte também em cínico. "Cínico é uma pessoa desavergonhada, debochada, sem amor, sem pudor, descarado, alguém que não tem senso de respeito [pelos outros]” (Larousse).
Muitas pessoas se enquadram nesse figurino: “rouba” o dinheiro público, vive da malandragem, corrompe ou é corrompido, e ainda discursa, cheio de moralismo e debochadamente, contra os outros criminosos. Os corruptos e corruptores são as cloacas do Brasil que não deu certo. Esse Brasil atrasado está marcado pelo teocratismo, patriarcalismo, ignorantismo, parasitismo, selvagerismo e cinismo.
De acordo com a Folha (10/11/13, p. C3), um dos integrantes da máfia dos fiscais na Prefeitura de São Paulo (Amílcar Lemos), poucos dias antes de saber que estava sendo investigado, teria postado mensagem no facebook dizendo-se contrário ao indulto de Natal: “Sou contra o indulto de natal. Quem também é, compartilha”. Muita gente deve ter compartilhado a mensagem, incluindo-se alguns cínicos despudorados.
O corrupto prospera em razão da cultura da impunidade. Se torna um cínico quando “sabe o preço de tudo, mas o valor de nada” (Oscar Wilde). Sabe muito bem o preço da corrupção, mas nada faz para preservar sua honra, sua reputação, sua credibilidade. Degeneração moral absoluta. Estágio avançado de putrefação cultural. A ponto de não se ver como mais um criminoso, até mais pernicioso do que muitos que se encontram recolhidos nas cadeias.
Para o corrupto (parasita), os criminosos presos constituiriam a latrina mais desprezível da cloaca da criminalidade. Daí o seu cinismo lhe permitir pisar naqueles que supostamente estariam mais embaixo, num tipo de escala da criminalidade. O cínico é, antes de tudo, um moralista. Reivindica, em seu inconsciente, um certo status imunizador para o seu crime. Se é que, na nossa cultura, veja sua própria corrupção como um crime!
Autor
Luiz Flávio Gomes é jurista e coeditor do portal atualidades do direito.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário