quinta-feira, 14 de março de 2013

A Realidade Como Arma Contra a Corrupção

Arimatéia Dantas, líder da Força Tarefa
Texto e Imagens: Especial 10 Anos Rede AMARRIBO Brasil-IFC

“Nada é mais importante do que a consciência adquirida pelos cidadãos. O exemplo é a nossa mais poderosa arma. Só o povo pode evitar a corrupção. Evitar as mortes, o desemprego, o sofrimento e a degradação do Estado e das politicas públicas”, Arimatéia Dantas.

Em 23 de julho de 2012, Arimatéia Dantas concluíu sua 11ª Marcha Contra a Corrupção, completando exatos 2.608km caminhados pelo sertão do Piauí desde 2002. Brasileiro, 51 anos de idade, natural de Juazeiro do Norte – CE, residente no Piauí desde 1977, o advogado começou a se envolver no combate à corrupção em 1987, ao prestar assessoria jurídica a uma ONG voltada para a conscientização dos trabalhadores rurais do município de Esperantina (PI).

O trabalho e a militância em pouco tempo mostraram a Arimatéia que o direito no papel não era aplicado na realidade: “As politicas públicas para os pobres era de faz conta. Soma-se a isto o autoritarismo da polícia em relação aos lavradores na sua luta pela aplicação do Estatuto da Terra e um Judiciário conservador”.

Dantas chegou a se candidatar a prefeitura do município porém, não foi eleito. “Esta experiência foi muito boa e rica porque vi por dentro a máquina se movimentar, então passei passei a olhar com mais atenção a administração pública e percebi a importância da fiscalização”, diz.

A partir dai decidiu fiscalizar e pedir as prestações de contas da Câmara Municipal da cidade. Depois de muitas dificuldades teve acesso aos documentos e descobriu muitas obras que não existiam. Juntou notas fiscais, reuniu moradores e mobilizou a cidade para exigir que as obras fossem concluídas. Ao conseguir que o primeiro calçamento fosse feito, a rua ganhou até inauguração popular. “Este fato foi decisivo para a minha opção de entrar na luta contra a corrupção. Vi de perto o poder da reação popular e como é essencial a participação da sociedade”.

Em 1998 houve a descoberta de um poderoso esquema de corrupção no Piauí envolvendo um coronel da Polícia Militar que hoje se encontra preso. A mídia nacional noticiou o esquema e por várias semanas o mesmo foi pauta nos horários nobres. Dantas conta que “as autoridades noticiavam a criação de uma força-tarefa composta pela Policia Federal e Estadual, Ministério Público, e outras autoridades. Acompanhando o caso percebi que aquela ‘força-tarefa’ precisava de um importante aliado: o povo! Não se falava em participação da sociedade que é a maior vítima da corrupção. O povo está em todo o lugar ao mesmo tempo e o processo de vigilância evita que ocorra a corrupção. Partindo desta reflexão fomos à ação e criamos a Força Tarefa Popular”. A entidade motiva a sociedade a fiscalizar o bem público denunciando os atos de corrupção.

Força Tarefa Popular ingressou na Rede AMARRIBO Brasil-IFC em 2005. “Meu primeiro contato com a Amarribo foi pelo noticiário. A história de Ribeirão Bonito foi muito motivadora. O exemplo da Amarribo e das cassações feitas pela ONG funcionou como uma máquina propulsora, demonstrando que nós não estávamos sozinhos na luta”, diz Dantas.

“Nessa luta muitas vezes nos defrontamos com o sentimento de fraqueza e desânimo. Os obstáculos a vencer são grandes e algumas vezes parece ser mais difícil do que realmente é. Nestes momentos é muito importante ter uma Rede ao seu lado e saber que há vitórias a comemorar que provam que é possível. Saber esperar é uma virtude essencial nesta caminhada”.

Em 2013 será realizada a 12ª Marcha Pela Vida e Contra a Corrupção e Arimatéia estará novamente presente. A Marcha não é como as grandes manifestações que reúnem milhares de pessoas nas cidades do país. Os manifestantes são poucos e o esforço exigido é grande: pelo menos 100 quilômetros percorridos ao longo de aproximados 15 dias.
 
O percurso sempre é escolhido com base em apurações prévias de problemas na administração de cidades do interior do Piauí. Obras paradas, fraudes em licitações e desvio de verbas são fatores que levam a cidade a ser escolhida para o percurso da Marcha. Além de fiscalizar, o objetivo é aumentar o número de cidadãos fiscalizadores e empoderar cidadãos com dicas de como acompanhar e verificar o andamento da gestão municipal. São realizadas aulas e oficinas sobre cidadania onde os marchantes ensinam como fiscalizar o poder público através da realidade local. Arimatéia diz que “o método funciona porque fazemos a população se perguntar por que as coisas não estão certas, e cada pessoa vai formando o seu pensamento”.

A iniciativa já rendeu melhorias significativas para a população das cidades por onde passou. Calçadas pela metade foram concluídas, bem como ruas que deveriam ser asfaltadas e estavam com obras paradas. Escolas precárias ganharam novos equipamentos. Câmaras de Vereadores, que nunca tinham sido abertas ao povo, foram palco de fiscalização popular.

“Mas nada é mais importante do que a consciência adquirida pelos cidadãos. O exemplo é a nossa mais poderosa arma. Ao caminhar entramos por caminhos espirituais incríveis. Quando nossos corpos sofrem por demais algo alimenta o corpo com determinação. O confronto com as obras inacabadas e o povo silencioso cria outra energia motivadora nos marchantes estabelecendo a certeza que nossos gritos devem ser fortes não só para espantar a corrupção, mas também para acordar os cidadãos. Falar da marcha é muito difícil porque ainda não inventaram palavras para descrever o sentimento maravilhoso de viver esta luta”, conta Dantas.

Arimatéia é otimista e diz que sua energia vem da prática da cidadania: “Só o povo pode está em todo lugar ao mesmo tempo e com seus olhos e bocas bem abertos podem evitar a corrupção. Cada um que tiver essa consciência estará evitando muitas mortes, desemprego, sofrimento e a degradação do Estado e das politicas públicas. As marchas mostram de perto as veias abertas do povo sangrando sem remédios, sem médicos, ossos expostos... tortura continuada sem que as vítimas percebam que seus algozes lhes roubam o voto com um sorriso moldado numa ‘ajuda’. Enquanto o povo não chega ao grande dia da tomada de consciência vamos continuar marchando levando a boa nova e quebrando o silencio do medo, da ignorância e da covardia. Não tenho dúvidas e falo como cidadão: Venceremos!”. Serviço
XII Marcha Pela Vida e Contra a Corrupção
10 a 24 de julho de 2013
amarribo@amarribo.org.br

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